quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

O FIM DO SECADOR

Foto de Gilberto Perin

O fim moral de um time não é quando o torcedor abandona a bandeira, é quando o torcedor cansa de secar. O secador é a última esperança de vitória do torcedor.

Quando a situação está tão ruim que nem torcer contra o rival funciona. Você não tem como debochar e somente se cala. Você não tem como zoar e passa a ser repentinamente educado e ainda diz para o inimigo que ele mereceu ganhar. Não encontra mais nenhum motivo para galhofa. A CBF vira STJD e fica refém mais da atuação dos advogados e do tapetão do que aquilo que acontece no tapete verde do campo.

Ausenta-se do debate, pois a distância entre o triunfo e o abismo se mostra inalcançável. As piadas de secação tornam-se velhas e não existe uma argumentação razoável para fazer gozação.
O fim do secador dentro do torcedor é o desinteresse completo pelo futebol. Você perde com o próprio time e também perde com qualquer time que enfrente o adversário direto de sua cidade. Está órfão da sorte e descrente dos deuses da bola.

Como colorado, a depressão me espera. Já cansei de torcer para o meu time e também para o Atlético, o Coritiba, o Figueirense, o América... Só acumulo derrotas. Dependo mais de resultados paralelos do que do próprio desempenho do meu clube. Eu sou obrigado a assistir três partidas ao mesmo tempo para rezar contra o descenso. Não há superstição que vingue. Não há concentração que se mantenha firme diante de tantos focos. É necessário acertar a loteria esportiva todo o final de semana.

E ainda sofro o extremo da aflição de testemunhar o Grêmio campeão da Copa do Brasil enquanto corro o sério risco de jogar a Série B pela primeira vez. É o ano de pesadelo dos colorados. O Apocalipse do manto vermelho. O Juízo Final dos sacis. Já estou deixando de beber porque não vejo pretexto para comemorar, já estou me enfurnando nos assuntos familiares e domésticos porque não tenho com o que vibrar no estádio, a minha mulher e os meus filhos já me perguntam se não vou dar uma volta e sair um pouco de casa, não me aguentam colado 24h.

Saudade da flauta gremista. O silêncio dos outros é puro escárnio. Não encontram sequer motivo para brincar com o meu coração morto. O respeito é apenas pena.

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