terça-feira, 26 de julho de 2016

O APOCALIPSE DE POLAINA


As mulheres têm toda a razão para reclamar de alguns péssimos hábitos masculinos de se vestir, como a gola V, fetiche dos marombados para exibir o peitoral e que só faz o sujeito parecer um stripper desesperado, ou sapato social com camiseta ou a gravata estampada de brechó ou o abadá do Carnaval retrasado ou o cinto de fivela de caubói ou o hábito de sair para passear com camisetas de futebol ou a sunga branca que mostra a penugem a cada mergulho.

Realmente, não há cabimento. São motivos para largar a mão do rapaz em caminhadas pelo Brique da Redenção.

Mas a mulher também guarda seus erros sociais, monumentais, passíveis de distrato na igreja e no cartório.

E o maior deles, que envergonha a classe dos namorados e o sindicato dos maridos, é a polaina, adereço que não deixa nenhuma beldade bonita e atraente, somente engraçada.

O que é uma polaina, meu santo pai?

Polaina dá vontade de rir. Você se levantou da cama e levou a coberta de lã junto? Você se confundiu de manhã e colocou um blusão nas pernas? O tapetinho do banheiro ficou enroscado nas pernas?

A polaina é um bambolê do tênis.

A polaina é uma meia de futebol com elástico estragado.

A polaina é um pijama arriado.

A polaina é um cachecol dos pés.

A polaina é uma sanfona murcha.

A polaina é um vício sem cura: terminará combinando polainas com crocs.

A polaina serve para disfarçar a canela fina e esconde o corpo inteiro.

A polaina entrega o sonho de infância de ser Paquita.

A polaina evoca Menudos, bandana e pulseiras de cordas de violão.

A polaina é o almanaque dos anos 80 publicado em pano.

A polaina é uma gravata-borboleta que voltou a ser lagarta.

A polaina é um pompom que caiu do casaco do bebê.

A polaina é calçar um poodle.

A polaina diminui ainda mais a baixinha.

A polaina é colorida como um drinque, porém traz a ressaca antes mesmo da euforia.

A polaina aquece as panturrilhas e esfria a relação.

A polaina é tão clandestina, tão feia, que não existe polaina de marca famosa, nenhuma fábrica ousa assumir o seu crime.

Publicado em Zero Hora
Coluna Semanal
26.07.2016

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