quinta-feira, 30 de junho de 2016

MINHA MÃE NO CINEMA



Fabrício Carpinejar
Arte de Eduardo Nasi

Todos os filmes que a minha mãe assiste eu não vejo mais. O complicador é que ela é cinéfila, frequenta o cinema três vezes por semana. Não sobram muitas alternativas do que está em cartaz.
Não tem graça. Minha mãe é o spoiler em pessoa. Não se restringe a evidenciar a sinopse do filme, sempre conta o final. Sua recomendação é um atestado de óbito cinematográfico. Transforma o roteiro em fofoca. Já estabelece a dica categorizando de que “não posso perder o filme porque a última cena é antológica”.

Preciso evitar conversar com ela no final de semana. O telefone toca na sexta e não atendo. Óbvio que vai expor o conteúdo dos lançamentos. Levanto o gancho de novo somente na segunda-feira.
Não é excesso de cautela. Ela entregou Os outros, O sexto sentido e O segredo dos seus olhos – assassinou estas obras de modo imperdoável.

Tampouco posso convidá-la a me acompanhar nas sessões, o que seria uma saída honrosa para não arcar com a sua prodigiosa antecipação. Não há como conviver, pois ela conversa descaradamente durante os filmes. Mas não é um sussurro no ouvido, não é um cochicho discreto: conversa alto, descreve o que pode acontecer, expressa verbalmente as suas reações. “Olha que lindo!". "Não acredito que foi ele que matou”. “Era o que faltava!”.

É uma narração de futebol ao vivo, mais estridente do que o saco de pipoca ou o canudo do refrigerante. Perfura o silêncio da sala escura como se estivesse de papo em casa vendo televisão.
Acredita que é uma transmissão ao vivo. Deve sofrer daquele caso grave de responder ao boa-noite dos apresentadores do Jornal Nacional.

Além disso, ela aplaude o filme ou vaia, dependendo da cotação passional. Já a observei de pé sozinha numa sala lotada gritando Bravo!. Procurei me dobrar com o assento da poltrona. Jura que o diretor e os atores estão presentes naquele momento para testemunhar a sua comoção.
Desisti de explicar que revelar o fim frustra as expectativas, condiciona o meu olhar e que não é um gesto educado. Ela rebate que é implicância de minha parte e que não faz diferença saber antes ou depois, que dá no mesmo.

Mãe a gente não muda, só se acostuma.

Publicado no site Vida Breve
Coluna Semanal
29.06.2016

2 comentários:

redonda disse...

:) Quando eu era criança e ia ao cinema com a família era para vermos Música no Coração - aí penso que se chamará Noviça qualquer coisa (acho que passei pela ideia de todas as crianças da família, depois da Maria e agora acho que da Baronesa), quando tinha doze ou treze lá fomos de novo e com uma menina que a mãe da madrinha de uma das minhas irmãs tinha trazido com ela. Eu fiquei ao seu lado e ela começou a contar as cenas do filme antes de sucederem - aquilo que eu tinha conseguido esquecer, ela contava :)

Unknown disse...

Sou mto fã do Carpinejar,gostaria de expor aqui um texto meu sobre um rompimento que passei
Olá, cá estou eu novamente e pela última vez, porquê cansei de sofrer feito bobo. Juro que por um tempo não consegui entender-te, mas descobri, não há nada para se entender. Você conseguiu hoje tirar o pior de mim, embora nunca me prometera nada, gerou uma grande expectativa dentro do meu ser. A cada beijo trocado, carícias ou uma intimidade, como fui bobo e frágil , só fui usado e me sinto assim agora. Fui um trouxa por não conseguir enxergar as coisas do seu modo, porém não anseio em ter tua amizade porquê nunca quis a mesma. Você conseguiu ser tão fria e egoísta, mas foi sincera quando me dizia que não gostava de mim e ao ouvir isso de você me doeu mais que qualquer golpe de objeto pontiagudo. Você seguiu em frente com essa sua filosofia tão rasa e barata(o mundo é cheio de pessoas legais), logo conheceu outro alguém. Continuou a ter noites de sono tranquilas enquanto a mim restavam brigas com o travesseiro pois até em sonho(ou seriam pesadelos) tua imagem e presença me perseguia,que besteira. Nunca foi amor e se houve foi só da minha parte, e você é ciente disso. Obrigado por ter saído da minha vida, pois nunca fizeste real esforço para permaneceres ou ser parte dela. Como perdi tempo, deixa de falar ou achar que sou um fofo pois não sou, e se me ver na rua faça de conta de que não me conhece. Fui tão sincero e sem medos pra você e me decepcionei amargamente, pra você fui um amigo com privilégios, porquê nem em público me dava seus beijos. Não peço desculpa por esse desabafo por se tratar de um direito meu, espero que pare de brincar com sentimentos alheios assim como fui vítima sua. Ao contrário do que disse da última vez em que te vi sobre não ter mágoa: mentira. Guardo mágoa, raiva e desprezo. Não faço falta mesmo pra você e você já não faz mais falta pra mim também. Mais um dia quando olhar pra trás se lembre que houve, que existiu um cara que realmente foi loucamente apaixonado por ti, mais você o matou vivo e ainda quis colocá-lo na prateleira de “amigos”. Adeus, e espero eu até nunca mais.