quinta-feira, 31 de maio de 2012

MÁQUINA RECEBE THALITA REBOUÇAS

A Máquina, meu programa na TV Gazeta, recebe a escritora Thalita Rebouças, autora da série "Fala sério!" e recordista de vendas em literatura infanto-juvenil com mais de 1 milhão de exemplares vendidos.

Foi um típico dia de Alice nos País das Maravilhas, com uma série de fábulas na entrevista: confissões sobre corpo, estrelinha, gritaria e teste sobre celebridades.

Acompanhe a conversa que ocorreu na noite de terça-feira (29/5).

quarta-feira, 30 de maio de 2012

DEFENSORIA PÚBLICA

Em briga de casal, a gente mete a colher de sorvete.

Eu e Cínthya Verri comandamos o quadro Quase Perfeito, no programa Tudo+, da TVCOM. Toda terça-feira, 21h.

É o consultório sentimental aberto aos telespectadores, uma Defensoria Pública do Amor.

Veja o divertido encontro dessa semana (29/5) .


terça-feira, 29 de maio de 2012

MÁFIA

Arte de Rufino Tamayo

Sou brigão. Um Hulk amarelado. Um caixa automático do Procon.

Minha aparência é calma, educada e sensível na maior parte do tempo. Mas é cometer uma injustiça contra mim ou querer me enganar, que enfureço. Subo nos tamancos. Monto no porco.

Babo, esbravejo, cerco a conversa, acelero a fala para não permitir que o oponente pense e revide. Em casa, são folclóricas as refregas com garçons, taxistas e vendedores.

No Súper Trunfo familiar, minha agressividade é 9,5, a campeã absoluta das cartas. Os filhos são os que mais sofrem com os escândalos públicos. Mariana, 18 anos, se cala de cantinho, envergonhada, pedindo desculpa por existir.

Aquele que discute alto deveria ter consideração com seus acompanhantes. Ou, pelo menos, consultá-los antes de tomar uma atitude intempestiva de chamar atenção do restaurante ou da loja ou da rua.

Busquei me reabilitar na última semana. Não me esquentar por qualquer atrito, não estragar o passeio com minha sede de justiça.

Em Belo Horizonte, veio a primeira chance de desfazer a fama. O taxista roubava de modo escancarado. Aumentava o trajeto, costurava rumos desnecessários, salteava entradas com destemor, assobiava malandragem. O trajeto de R$ 10 da ida (linha reta na Avenida Afonso Pena), já resultava o dobro no taxímetro da volta.

Respirava cachorrinho para não latir. As têmporas cresciam, a dor de cabeça aumentava, mas não iria constranger novamente minha filha. Dessa vez, suportaria o erro em silêncio, conteria o ímpeto de pegar a falha em flagrante e exigir explicações. A mão suava, a garganta arranhava de raiva. Repassei o dinheiro para Mariana disposto a evitar o conflito direto, o confronto final, o choque da verdade.

Não desejava sequer ouvir a voz fanhosa do sujeito. Festejei quando saí do carro para pegar as sacolas no porta-malas. Finalmente controlei a fúria, estava curado da maldição, merecia estrelinhas douradas no caderno escolar.

Mas estranhei a demora de Mariana para deixar o táxi. Fui conferir pela janela e ela apontava o dedo e gritava com o motorista, chamava o cara de ladrão, de criminoso, de estúpido, de grosseiro, de nojento. Levantou-se e bateu a porta com força. Lacrou a porta do Sandero. Nunca a vi assim.

– Que safadeza, a corrida custou R$ 22,10 e ele insistiu pelos 10 centavos, não aguentei e explodi – esclareceu.

Nas férias de minha cólera, ela ocupou meu lugar. Bem coisa de máfia.

As maiores brigas de nossa vida acontecem quando defendemos as dores dos outros.




Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 29/05/2012
Porto Alegre (RS), Edição N° 1784

MINHA RITALINA

Arte de Paul Klee

Muitos não entendem meu fôlego, minha disposição. Explico.

Pai não reclama, faz - aprende a realizar duas ou três tarefas ao mesmo tempo, estudar de madrugada, acordar cedo, conciliar dois trabalhos, criar uma maneira de pagar escola, residência, alimentação, futuro.

A paternidade é minha Ritalina. A paternidade é meu guaraná cerebral. A paternidade é meu Red Bull. Meu energético.

Ouça meu comentário da manhã de terça (29/5) na Rádio Gaúcha, no programa Gaúcha Hoje, com Antonio Carlos Macedo e Daniel Scola:

segunda-feira, 28 de maio de 2012

DIVÃ NAS RUAS


Eu e Cínthya Verri, como todo casal alucinado pela verdade, montamos um consultório a céu aberto em Porto Alegre. Humor é ternura.

Confira nossas traquinagens emocionais e intelectuais, prévia do que faremos por escrito todo domingo em Zero Hora.


sábado, 26 de maio de 2012

O CIÚME É COMO UM ANÃO DE JARDIM

Arte de Cínthya Verri

“Boa noite!

Há coisa mais perigosa do que uma namorada ciumenta e pré-menstruada querendo conversar (por torpedo) sobre algo que talvez você tenha feito, mas ela não quer dizer? Já constatei que a melhor defesa é a aceitação. Sim, é uma cilada. As acusações são fruto de mentes momentaneamente alienadas. Agora tenho que sair urgente, o celular apitou, tenho poucos segundos para responder, senão estarei suscetível a uma acusação de descaso. Hehehehehe.
Um abraço,
Eugênio”

Querido Eugênio,

O ciúme sempre é visto como uma alegria no início do namoro. Uma demonstração de pertencimento. Um sinal de que se importa com ela e que pretende dividir a fidelidade. A cena é clássica, você pergunta quem é o sujeito de abraço exagerado, ela repara no seu beiço e grita, vaidosa:

– Tá com ciúme de mim? Ai, que lindo, você me ama.

O ciúme é um “eu te amo” disfarçado.

Depois, quando a relação se firma, o ciúme torna-se um sinal de incompreensão, de abuso de poder.  Não admitimos qualquer suspeita. Uma pergunta sobre nossos hábitos é vista como uma invasão:

– Não confia em mim?

O ciúme passa a ser um “eu te odeio” disfarçado.

Antes, gerava orgulho. Em seguida, produz receio. Curioso, né?

Só que o ciúme não mudou, nós é que mudamos diante dele.

Tenho certeza absoluta que você colabora para justificar o medo dela. Pelo jeito que escreve, gosta que ela arda de ciúmes. O celular apita e você já vibra: é ela, questionando onde está ou por que está demorando.

Não é voluntário, é inconsciente. Ela faz declarações cada vez mais dependentes, assustadas, e você se vê dominando o relacionamento. Na verdade, admira a perseguição, os sucessivos interrogatórios, aquilo que chama de chatice para os amigos. Aposto que demora a dar respostas de propósito. Um homem fica em silêncio por vaidade, para parecer mais experiente e sedutor. Poderia logo desfazer intrigas, mas adora ser confundido com um Casanova.

A honestidade é divertida, experimente. Não faça de conta que ela é louca, que somente ela sofre de insegurança. Somos igualmente possessivos, temos fantasias cruéis e ridículas. Não diga que a insistência dela é fruto de uma mente momentaneamente alienada.

Uma das grandes tentações da relação é usar a fraqueza alheia a nosso favor. É um auto-elogio. Criticamos o comportamento do par com o objetivo de avisar, por tabela, que somos sadios e equilibrados, que não oferecemos motivo para perseguições.

O ciúme é como um anão de jardim. Você nunca verá um anão sozinho. Ele sempre tem companhia.

Abraço com toda ternura,
Fabrício Carpinejar

Querido Eugênio,

Irei direto ao ponto, pois você é um homem objetivo: a aceitação não é a melhor forma de defesa; a aceitação é a melhor forma de ataque.

Não existe melhor álcool para o fogo da briga do que a indiferença. Você vem desprezando o que ela diz, como se fosse sempre a mesma reclamação. Com seu jeito falso carinhoso, você está agredindo sua namorada. “Ela é, no mínimo, paranóica. Eu não, sou um homem elevado, fino, calmo, equilibrado, que jamais se abala por suspeitas infundadas.”

Além disso, Eugênio, você nunca menstrua, não é mesmo? Querido, não desista ainda de ler esta carta. Juro que não quero ofendê-lo. Eu mesma nunca tive muita paciência com as inseguranças dos namorados, cheios de acusações e perguntas de duplo sentido.

Por um lado, as mulheres podem até se sentir importantes. Não recebíamos tantos olhares desde o berçário. Mas é cansativo, você tem toda a razão. Dá vontade de humilhar, de maltratar para ver se o outro aprende.

Só que não há pedagogia no amor. Estamos juntos nessa. A confiança excessiva que você demonstra também é um pouco mentira. Pode ficar furioso comigo, mas você é um grande ciumento disfarçado.

Quando nos comprometemos com outra pessoa, já não somos mais um só. Acontece uma fusão. Sua namorada também deve se questionar diante da própria hesitação. Mas ela tem pago a conta por vocês dois. Ela executa o papel que você não está conseguindo desempenhar.

Duvida? Pois faça o teste: experimente desconfiar dela algumas vezes, assuma o ciúme que você tem daquele colega de trabalho com quem ela se dá tão bem. E observe se a cota de cobranças não fica mais equilibrada.

Beijos meus e até mais,
Cínthya Verri

Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, Caderno Donna, p. 6
Porto Alegre (RS), 27/05/2012 Edição N° 17082

ESCREVA PARA colunaquaseperfeito@gmail.com

sexta-feira, 25 de maio de 2012

FILA DO AMOR

Arte de Edward Hopper

Quem amamos sempre deixamos para depois. Porque é da família e vai entender a urgência de nosso trabalho.

Um minutinho, meu filho./ Já te ligo, amor./ Agora estou ocupado./ É uma ligação importante.

Só que o filho cresce e para de nos procurar.
Só que o pai morre e não descobrimos o que ele queria.
Só que a esposa se cansa da solidão e pede o divórcio.

Reclamamos da fila da Previdência, da fila do SUS, da fila dos bancos. Mas os familiares vivem em fila para serem atendidos dentro de casa.

É a fila do amor que não anda. Do amor que pensa que terá tempo em seguida. O tempo adiante será o mesmo tempo de agora. A mesma falta de tempo.

Filhos pequenos são mendigos em seus quartos, esperando que você desligue o telefone, que você preste atenção.

Maltratamos quem a gente gosta com adiamentos e desculpas. A vida passa e a promessa de conversa não se realiza. E não sabemos o que o nosso menino estudou, o que a mulher criou no trabalho, o que a mãe precisava comentar sobre seu passado.

Abandonamos a família porque desejamos ter calma. Ter folga. Ter férias.

Melhor falar nervoso do que não falar. Melhor um pouquinho junto do que nada. Melhor o rascunho do que a idealização.

Interrompa suas atividades para ouvir a família. Mesmo que seja rápido. Mesmo que seja de qualquer jeito.

A conversa é do momento, a conversa é um momento.

É possível desistir de dizer. É possível perder a vontade.

Não existe como recuperar lembranças.
Cuide da família. Agora!

Ouça meu comentário de sexta (25/5) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Daniel Scola:


quinta-feira, 24 de maio de 2012

CASAL EM NATAL

Eu e Cínthya Verri estaremos conversando em Natal (RN) nesta sexta (25/5).

16h, Escola Centenário
Palestra com Fabrício Carpinejar e Patrício Jr.
Prazer da leitura
Auditório
(Av. Mal Floriano Peixoto, 295 - Petrópolis)
Entrada franca

19h, Livraria Nobel
Bate-papo com Cinthya Verri sobre "Constantina". Mediação Fabrício Carpinejar.
Sessão de autógrafos de Constantina de Cínthya Verri e dos livros de Carpinejar, dentro da Ação Leitura
(Avenida Senador Salgado Filho, 1782 Tel.: 84 3613-2007)

quarta-feira, 23 de maio de 2012

MÁQUINA RECEBE FÁBIO DE MELO

"Deus é um esporte radical, muitos levam tombos"

É o que diz o padre Fábio de Melo no meu programa A Máquina, da TV Gazeta.

Ele nasceu dois dias depois do 1º de abril.

- A verdade sempre nasce dois dias após a mentira - brinquei.

Leve, feliz, cúmplice, o cantor e escritor refaz sua infância em Formiga (MG) e lembra de seus amores na adolescência:

- Gostava de namorar. Não faltaram mulheres interessantes e opções para se casar.

O bate-papo ocorreu na noite de terça (22/5).

terça-feira, 22 de maio de 2012

HOMEM QUE BROXA AO TRAIR NÃO FOI INFIEL

Arte de Carlo Carrá
 
 
Todo homem que broxa em caso extraconjugal merece o perdão.

Uma escapadela do casamento com broxada não pode ser condenada. É um triunfo da monogamia.

A falta de ereção anula o crime, isenta o desvio, elimina a culpa. É como sessão de cinema no blecaute. Devolve-se o ingresso.

Se ele falhou com outra mulher, não foi infiel. Ofereceu a mais alta prova de adesão a um relacionamento estável.

O encontro não pode mais ser enquadrado como pulada de cerca. Pelo contrário, o sujeito fortaleceu a relação familiar, construiu um muro de proteção de sua intimidade. Negou a pretendente e – broxando – apagou esperança de reincidência.

De modo nenhum deve contrair vergonha do ato, esconder a informação, sonegar a cena. A broxada é uma medalha de honra ao mérito, uma distinção afetuosa, vale como tempo de serviço para as bodas de ouro.

Ao tentar trair e fracassar, demonstrou que realmente ama sua esposa. Foi uma prova incontestável de dependência. Uma declaração absoluta de lealdade. Um atestado de submissão amorosa.

Sacrificou-se para dar o exemplo e não gerar dúvidas de seu estado civil. Levou a aventura às últimas consequências. Testou a libido e recebeu o resultado negativo. Respondeu aos demônios da excitação com o desânimo da carne.

Broxou como quem escreve um testamento, como quem dedica seu suspiro ao quarto do casal.

Não foi fraco de fugir no bar. Não foi covarde de esnobar convite. Não desistiu, caminhou muito além das palavras. Provou mesmo que não queria com seu instrumento murcho, acabado, inofensivo.

Não é pouca a coragem. Recusou Viagra e paraísos artificiais, afrodisíacos e ceras amazônicas.

Num manifesto camicase, explodiu a reputação de comedor por uma causa nobre, a dizer alto e em bom som para sua companhia:

– Não adianta insistir, ninguém me excita a não ser minha esposa.

Desembainhou a espada pela paz, entrou na arena para não lutar. Experimentou a hombridade da rendição, a resistência dos santos no deserto.

Não usou atenuante, não mentiu, sequer fingiu, nem mergulhou no sexo oral para ganhar terreno, assumiu que não estava a fim, que não desejava aquilo, que tinha que regressar ao lar. Com coragem e cara limpa, sem hipocrisia, olhando nos olhos de sua presa.

Rejeitou a outra depois que ela tirou a roupa. Largou o flerte em plena nudez. Humilhou a amante com a frase mais monogâmica do mundo:

– Desculpa, eu não consigo.



Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 22/05/2012
Porto Alegre (RS), Edição N° 1777

METAMORFOSE AMBULANTE


Já fui hippie com cabelo comprido. Já fui metaleiro com braceletes de pregos. Já usei brinco. Já tirei barba, já coloquei bigode, já testei cavanhaque. Já fui executivo, de coolocar terno todo dia, e não dispor de uma calça jeans no armário. Já fui sertanejo com franja de Chitãozinho e Xororó. Já fui maloqueiro. Já malhei e ergui peso a ponto de engolir ovo cru de manhã. Já fui comportado, de camisa polo e calça de sarja. Fui dezenas de personalidades ao longo de minha vida, várias encarnações.

O passado existe para a gente não julgar a aparência dos outros. Para não ser intolerante. Ouvir primeiro, antes de falar, antes de condenar. Se sua filha surge de cabelo azul em casa, dá um desconto. Realize uma rápida retrospectiva (será que não fez pior?)

Ouça meu comentário de terça (22/5) na Rádio Gaúcha, no programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Daniel Scola:


segunda-feira, 21 de maio de 2012

PACTO

Arte de Marc Chagall

Minha mulher vai envelhecer para os outros, nunca para mim. Sua voz já é seu rosto. E me ilumina no escuro.

Ouça meu comentário na Rádio Gaúcha na manhã de sábado (19/5), no programa Gaúcha Hoje, apresentado por Daniel Scola e Fernando Zanuzo:


domingo, 20 de maio de 2012

PENSAMENTOS OPOSTOS, SENTIMENTOS CONCORDANTES

Foto de Fernando Gomes

Ele é escritor, cronista, pai, dono de casa, professor, poeta, jornalista. Ela é escritora, cronista, poeta, madrasta, médica, acompanhante terapêutica, cantora, ilustradora.

Ele tem 39 anos. Ela tem 31. Ele tem dois filhos, Mariana, 18, e Vicente, 10. Ela tem uma cadelinha, Cora, 4. Casal, dupla, duo, não importa, Fabrício Carpinejar e Cínthya Verri assinarão juntos na nova revista Donna a coluna Quase Perfeito, com ilustrações da própria Cínthya.

A proposta é brincar de consultório sentimental, respondendo a perguntas dos leitores – cada um com seu ponto de vista, replicando-se e provocando-se mutuamente.

– Nos conhecemos no final de 2008, ambos exibidos, carentes, espalhafatosos, discordantes. O único jeito que cada um encontrou para calar a boca do outro foi com um beijo! Só brigamos naquela noite, e por conta da Mercedes Sosa – conta Cínthya, autora da Constantina, relembrando o primeiro encontro com Carpinejar, autor de Canalha!.

O multicasal começou morando junto, depois viveu “separado-junto”, até montar um apartamento:

– Apareci com uma biblioteca de sete mil livros. Cínthya surgiu com uma coleção maravilhosa de sapatos. Não dá mais para separar. Nossos livros não andam descalços pela casa – diz Fabrício.

– Temos escritório juntos, mas escrevemos na varanda, na sala, na cozinha. Eu escrevo olhando televisão, em transe. O Fabrício prefere o silêncio. Somos hiperativos de temperamentos diferentes. O Fabrício é o organizado que perde tudo. Eu sou a desorganizada que não perde nada – completa Cínthya.

E como será a coluna no Donna que estreia no próximo domingo? Fabrício responde:

– Imprevisível, nunca sabemos o que o outro vai falar. Pensamentos opostos, sentimentos concordantes. Sinceridade não é para doer, mas para cicatrizar. Não vamos fingir, nem fugir do assunto. Adoramos uma boa discussão.

COM NOVO PAPEL, DONNA GANHARÁ ARES DE REVISTA


Evoluir é mudar sem perder a identidade, é incorporar novidades e adaptar-se a novas circunstâncias sem abrir mão da essência. Se a regra vale para as pessoas, pode ser aplicada também a jornais e revistas, que são organismos dinâmicos e em constante processo de renovação.

No próximo domingo, os leitores encontrarão encartada na Zero Hora dominical uma evolução do Donna – suplemento que estreou no jornal em maio de 1993 com o objetivo de ser muito mais do que um caderno feminino. Mesmo contemplando assuntos tradicionalmente tratados pelas revistas femininas, como moda, beleza e comportamento, Donna, ao longo de sua trajetória, firmou-se como um caderno da família inteira, contando com dois dos mais queridos cronistas do Brasil: os gaúchos de corpo, alma e endereço Luis Fernando Verissimo e Martha Medeiros.

A mudança mais evidente – e literalmente palpável – desta nova fase está na capa, que passa agora a ser impressa em papel couchê, dando ao suplemento um aspecto ainda mais sofisticado e duradouro: Donna deixa de ser um caderno para se tornar uma revista semanal. As páginas internas também ganham um papel diferenciado, ideal para destacar o design gráfico e o trabalho de alguns dos melhores fotógrafos de moda do Brasil que colaboram com a revista.

– Com o papel de maior qualidade, todo o conteúdo do Donna, sobretudo ilustrações, fotografia e publicidade, será muito valorizado aos olhos dos leitores – diz o diretor-geral de Jornais RS do Grupo RBS, Marcelo Rech, lembrando que Zero Hora está investindo mais de R$ 4 milhões no novo Donna este ano. Além da melhoria do papel, boa parte deste investimento está na instalação, no Parque Gráfico Jayme Sirotsky, em Porto Alegre, de um equipamento de origem suíça capaz de grampear 37 mil exemplares da revista por hora.

Editorialmente, a nova revista Donna também terá novidades. Incorporando-se ao “dream team” de cronistas da revista, o escritor Fabrício Carpinejar assina com a mulher, a também escritora Cínthya Verri, a coluna Quase Perfeito, em que o casal vai responder a questões dos leitores apresentando as perspectivas feminina e masculina dos mesmos assuntos. A página assinada pela astróloga Amanda Costa terá mais conteúdo exclusivo, e a revista ganha ainda uma seção de passatempos, com Palavras Cruzadas e Sudoku.

Reportagens sobre comportamento e tendências seguem sendo um dos pontos fortes da revista, que traz ainda entrevistas e dicas sobre a programação cultural, sem deixar de lado as tradicionais seções de moda, beleza e etiqueta. A personagem escolhida para estampar a primeira edição da nova revista Donna é a ex-Miss Universo Ieda Maria Vargas, que recebeu em seu apartamento, em Gramado, a editora Mariana Kalil e a colunista Celia Ribeiro para uma conversa franca e emocionada sobre amor, família e superação.

Donna vai evoluir, tornar-se revista, mas jamais vai perder a essência que conquistou os leitores nesses 19 primeiros anos: tratar de assuntos e personagens que tocam o coração de homens e mulheres gaúchos.

Publicado no jornal Zero Hora
Editoria de Geral 20 de maio de 2012 
P. 24, N° 17075

sexta-feira, 18 de maio de 2012

SUBMISSÃO

Arte de Paul Klee

Hoje tem consultor para qualquer problema. Todo mundo pretende dominar o segredo da fortuna e não veste mais o que deseja nem diz o que sente para não causar má impressão.

É o medo da própria opinião. É o cúmulo da insegurança emocional. Estamos contratando porteiros para nossas ideologias e construindo cercas e portões eletrônicos nas nossas personalidades.

Ouça meu comentário na Rádio Gaúcha na manhã de sexta (18/5), no programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Daniel Scola:

quinta-feira, 17 de maio de 2012

MÁQUINA RECEBE WASHINGTON OLIVETTO


O publicitário mais famoso do Brasil, Washington Olivetto, é o entrevistado da semana da A Máquina, meu programa na TV Gazeta, exibido na terça (15/5), 23h30.

Em atmosfera confessional e poética, ele revela qual foi a lembrança fundadora de sua sensibilidade. Na infância, ficou isolado um ano por ameaça de poliomielite.

Trancado no quarto, longe da escola, sem contato com os amigos, passou a decifrar as expressões dos rostos dos familiares para entender o que estava acontecendo. A solidão permitiu que desenvolvesse o dom de ler nossos desejos, antecipar tendências e escrever a história da propaganda no país.


terça-feira, 15 de maio de 2012

CUECA ESTRANHA NA GAVETA

Arte de Salvador Dali

Homem já passa a identificar suas próprias cuecas. O que é um tremendo avanço tecnológico. Mas toda evolução tem seus efeitos colaterais. Maurício que o diga.

Ele estranhou uma cueca preta em sua gaveta. Quase que a vestiu sem pensar, na saída do banho, naquela pressa que aceita o improvável.

No entanto, algo incomodou no exemplar. Ou a marca de caveira ou o tamanho folgado criou a incerteza de seu domínio. Definitivamente não era dele. Nunca fora dele.

Por pouco não cheirou para tirar a cisma. Evitou a fungada para reduzir os danos da humilhação. O sangue subiu com o raciocínio. Ser corno não é uma decisão fácil, exige madureza, sabedoria e, acima de tudo, provas.

Antes de definir autoria, eliminava hipóteses:

1) Não tinha filhos.
2) Não tinha irmãos.
3) Sua mulher também não tinha irmãos.
4) Seu pai morreu.
5) O pai de sua mulher morava longe.
6) Não jogava mais futebol com amigos.

Desprovido de figuras masculinas diretas na convivência, apanhou a peça, agora com um certo nojo, segurando a etiqueta com a ponta dos dedos, e seguiu para discutir com a esposa. Não restava dúvida de que ela deveria conhecer a origem do enxerto. Sua boca borbulhava de ódio:

– Safada, será que ela me trai, e ainda na minha cama, e ainda lava a cueca do cara e bota dobrada nas minhas coisas?

Estava convicto de que a vizinhança inteira debochava de sua virilidade, de que o porteiro ria de sua tolice romântica. Ao encontrar Lúcia tomando café na cozinha, ele ergueu a bandeira negra a fim de guerra.

– De quem é essa nojeira?
– Sua?
– Não!
– Não é o que estou pensando...Não vai dizer que anda trazendo cueca de outro homem para casa, Maurício!
– O quê?
– Não tem cabimento encher o armário com roupa de amigo. Intimidade não se empresta, fica chato. É como escova de dente.
– Amor, não peguei nada emprestado de nenhum amigo.
– Então, o caso é mais grave, o que anda fazendo, amor? Não me diz que vem me traindo? E com rapazes?
– Tá maluca, Lúcia. Você me conhece.
– Não sei não, é suspeito, me explica o que faz uma cueca de um estranho em sua gaveta?
– Sei lá, também quero saber, iria mesmo perguntar para você.
– Para mim? Eu não uso cueca. Que vergonha! Ai se minha mãe sabe...
– Eu não fiz nada, juro, a cueca apareceu de repente em minhas roupas.
– Deixa eu ver? Ai que horror, tem cheiro de usada. Ai, não acredito, tem pentelhos.

Ela soluçou o início de choro, bateu a porta de casa e saiu furiosa. Maurício não descobriu de quem era a cueca. Isso não merecia mais sua preocupação. Necessitava achar um jeito de acalmar a esposa.





Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 15/05/2012
Porto Alegre (RS), Edição N° 1770

ÉTICA DO USO DO CELULAR

Arte de Max Ernest

Deveria existir uma ética do celular. Uma legislação, com infrações e risco de perda total da linha.

Habilitar não somente o aparelho, mas também o usuário.

Seria criada uma brigada de amarelinhos para multar os descomportados. Seria preparada uma autoescola em cada telefônica, com direito a reciclagem.

O motorista de celular sem nenhum ponto na carteira ao longo de um ano ganharia um I-Phone. Nada contra o uso do celular, sou um adepto fervoroso, mas não custa prevenir exageros.

Há absurdos e mais absurdos acontecendo a toda hora:

- Gente que atende celular no cinema ou em sala de aula, para cochichar a quem liga que não pode atender.

- Gente que aproveita a sinaleira para mandar torpedos. Como se houvesse tempo.

- Gente que fala com rádio alto. Parece que nunca brincou de Walkie Talkie.

- Gente que acredita que o celular é uma máquina fotográfica. E que terá a foto de sua vida no próximo instante.

- Gente que decide discutir o relacionamento ao celular no meio de um trem lotado. E afasta o aparelho do ouvido na hora em que sua mulher está gritando.

- Gente que senta para comer e conversa de boca cheia ao telefone tentando fingir que não está almoçando sozinho.

- Gente que deixa o celular tocando na bolsa. Como se a bolsa fosse um silenciador.

- Gente que liga para dizer que agora não dá mais para falar e desliga na nossa cara. Se não dava para falar, por que telefonou?

- Gente que confunde o celular com terapia e fala sem parar. A chamada caiu e ele nem percebeu.

- Gente que aproveita a promoção de 200 minutos grátis e quer realmente usar cada centavo com você.

- Gente que anda com três celulares, simplesmente pelo pavor de um dia não ser encontrado.

- Gente que acha engraçado exibir músicas de sua preferência pelo ringtone. E põe hino do Inter ou do Grêmio ou Michel Teló. Não é engraçado, é somente irritante.

- Gente que acredita que o celular está estragado quando ninguém telefona no intervalo de quinze minutos.

- Gente que manda torpedo de madrugada pensando que não está sendo invasivo. É igual a um telefonema.

- Gente que despreza qualquer lugar ou restaurante ou hotel que não tem sinal.

Ouça meu comentário na manhã de terça (15/5) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Daniel Scola:

segunda-feira, 14 de maio de 2012

AUTÓGRAFOS DE CÍNTHYA EM POA E BH

15/5 (terça-feira), 21h, Porto Alegre (RS)
Sarau Elétrico com Cínthya Verri
Autógrafos de Constantina
Leitura de Luís Augusto Fischer, Claudia Tajes e Kátia Suman.
Canja musical Rodrigo Panassolo
Bar Ocidente
(Av. Osvaldo Aranha, 960 5133121347)

19/5 (sábado), 11h, Belo Horizonte (MG)
Lançamento de Constantina
Bate-papo com Cínthya Verri e Fabrício Carpinejar
Livraria Scriptum
(Rua Fernandes Tourinho, 99 31 3223 1789 | 3223 7226)

sexta-feira, 11 de maio de 2012

MÁQUINA RECEBE TÂNIA ALVES

Nunca ficamos satisfeitos com o que temos, gostamos mesmo é de sentir falta.

No meu programa A Máquina, exibido na TV Gazeta na noite de terça (8/5), acompanhe a divertida entrevista com a atriz e cantora Tânia Alves, que une delicadeza e determinação no palco e no cinema.

Põe Chico Buarque na vitrola. Tânia é palavra envolvida em fina melodia.

SEMPRE MÃE

(Depois do futebol no pátio, a mãe nos trazia uma jarra gelada de Ki-suco)

Mãe acredita na nossa mentira mesmo sabendo que não é verdade.

Mãe é a única pessoa que nos telefona antes das 8h. Aliás, mãe telefona quando não precisa, telefona para não falar nada.

Mãe sempre alcança o que deseja dizendo que é bom para gente.

Mãe aprende com os filhos, mas acerta mesmo com os netos.

Mãe conserva eternamente o cheiro de hipoglós entre os dedos.

Mãe consulta a opinião do pai para fazer tudo diferente.

Mãe é competitiva na alegria e na tristeza. Não aceita que alguém seja melhor do que ela. Nem que alguém seja pior do que ela.

Mãe não pede desculpa, pede licença para chorar. Vai chorar sempre que você gritar com ela. Vai chorar sempre que você não responder para ela. Vai chorar de qualquer jeito.

Mãe é nosso Pen Drive: não consegue colocar fora nem o rascunho do nosso desenho da 2ª série.

Mãe espalha notícia sobre a nossa vida antes da confirmação e depois alega que não entende como todo mundo já descobriu.

Mãe questiona o que queremos para apoiar no final. Condena primeiro para perdoar em seguida.

Mãe tenta evitar ciúme criando segredos entre os irmãos.

Mãe constrange com abraços e beijos e apelidos fofos e sonha andar de mãos dadas na rua com o filho na frente de todos.

Mãe reclama do filho para o filho e elogia o filho para os outros.

Quando alguém parabeniza sua criança, a mãe agradece como se fosse para ela.

Mãe não desmancha o quarto do filho adulto esperando que ele volte para casa.

Mãe nunca tem razão, ela é nossa razão para viver.

Ouça minha homenagem ao Dia das Mães na manhã de sexta (11/5) na Rádio Gaúcha, no programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Fernando Zanuzo:

terça-feira, 8 de maio de 2012

MEU ANJO DA GUARDA,

Arte de Marc Chagall


vejo muitos pais reclamando do aumento de violência e de sua preocupação com a segurança dos filhos.

Sou também pai, respeito o medo e igualmente sofro em segredo – me encaixo naquele caso paranoico que só dorme quando todos estão em casa.

Mas eu e você temos noção de que a violência não era menor na minha adolescência, apesar dos protestos da nostalgia, apesar do charme de puxar o otimismo a favor do meu tempo.

Eu não esqueci o quanto você me salvou. Poderia ter morrido tantas vezes. E escapei sempre por um triz, por um golpe de suas asas, pelo seu cuidado telepático, pela sua generosidade discreta.

Você recorda, anjo, dos meus 18 anos? Óbvio que sim, minha memória é seu trauma. Viajava de carro sem cinto. Uma simples colisão e não existiria mais. Saltaria em direção ao vidro. A gente bebia depois da festa e dirigia. Não havia campanha, fiscalização, blitz. Como que nunca aconteceu nada, como?

Sou seu milagre. Sua hora extra. Seu sonambulismo.

Ou quando atravessava a cidade a pé e entrava de penetra em qualquer festa que encontrasse pelo caminho, recorda? Adormecia em paradeiros desconhecidos. E não tinha celular ou telefone para pedir ajuda. Já andei de Assunção a Petrópolis, sozinho, de madrugada, alheio a assaltos e ameaças. Já fugi correndo de turmas de canivetes e chacos.

Balada sim, balada não, armava-se um bolo em que os socos surgiam do nada e os colegas se defendiam com garrafas quebradas. Cortei a minha cabeça numa luta, o que rendeu quatro pontos. Quase foi fatal.

E o amor totalmente desprevenido? Ai, anjo da guarda, raros usavam camisinha com as namoradas na minha época. Mergulhei numa década inconsequente e saí ileso.

Gerei o dobro de trabalho para seus voos e vigílias, né? E as drogas que circulavam entre os conhecidos, o lança-perfume que vinha de Rio Grande? E os comas alcoólicos? Não foi uma vez que desmaiei na calçada do Bom Fim. Apaguei uma noite no Parque da Redenção, acordei com gritos de um brigadiano: “Vamos circular!”.

Os adolescentes torravam mesada em bebida e se vestiam como mendigos, com calças rasgadas e camisetas para fora. Meu fígado não tinha rótulo. Superei conhaque de pior espécie, vinho de garrafão de procedência duvidosa, cigarros de filtro laranja.

Pegava carona na BR-116 (considerava um absurdo gastar com ônibus) e não deparei com nenhum assassino.

Incrível que esteja aqui para agradecê-lo. Se minha mãe soubesse o que passei, arrumava um castigo retroativo.




Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 8/05/2012
Porto Alegre (RS), Edição N° 1763

ENTRELAÇADOS

Arte de Cínthya Verri

Abandonei o armário: sou dependente de minha mulher. Absolutamente dependente. Vou fazer mercado e já priorizo seu iogurte com 0% de gordura, seu chocolate com 85% de cacau, sua granola, sua pimenta forte, sua uva Isabel.

Ouça meu comentário na manhã de terça (8/5) na Rádio Gaúcha, no programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Fernando Zanuzo:


domingo, 6 de maio de 2012

CINTHYA VERRI LANÇA SEU PRIMEIRO LIVRO


Minha mulher Cínthya Verri faz sua estreia na literatura. Noite de chamar as estrelas com assobios. Noite de alumbramento.  

as xícaras são carícias 
(e as pernas - tremores) 

só me reconheço 
com pouco. 

Noite onde a mesa será maior do que a casa. A sessão de autógrafos de "Constantina" (Edith, R$ 25) do lindo poema acima será na terça (8/5), a partir das 19h, no Restaurante Suzanne Marie (Tobias da Silva, 304), em Porto Alegre (RS).

sexta-feira, 4 de maio de 2012

CADEIRINHA PARA O INFERNO

Arte de Francis Bacon

É uma cilada quando a mulher diz ou o homem diz que pode confiar e contar a verdade. Seja infidelidade, seja deslealdade: o resultado não será agradável. Nunca é.

Não há como planejar passionalidades. Ou antever qual a reação diante de uma confissão.

A paciência é uma isca para confidência. Todo mundo é tranquilo antes. Todo mundo é beato na desinformação.

Lá está sua esposa, calma, amorosa e querida, avisando que o importante é a sinceridade e que não precisa ter medo de que ela vai entender qualquer coisa. Que ela sempre estará junto, que a natureza do erro não terá nenhum peso na decisão.

Você se enche de coragem, abre a boca, fala a besteira que fez e toma uma porrada na cara.

O que queria? Mereceu! Já viu alguém perdoar por antecedência? É como vender cadeirinha para o céu.

Sem saber o pecado, não há como adivinhar as consequências.

Não há fiado de castigo. Não há como comprar o perdão a prazo.

A dor custa caro. Não promove desconto, exige o troco, exige o mínimo centavo de volta.

Curioso que as pessoas acreditam que podem controlar suas emoções. Que realmente podem prometer um comportamento equilibrado e santo. Que não vão sofrer nenhum baque, nenhum susto com aquilo que será revelado.

É uma falsa onipotência. Nunca descobriremos como vamos receber uma notícia. Alguns gritam e esperneiam, outros são mansos e indiferentes.

É um enigma, um mistério. Somos imprevisíveis no amor e na amizade.

O justo é não antecipar respostas. Perante uma tristeza, você nunca saberá o que vai sentir. Ou deixar de sentir.

Ouça o comentário que fiz na manhã de sexta (4/5) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Fernando Zanuzo:

quinta-feira, 3 de maio de 2012

MÁQUINA RECEBE KIBE LOCO

Vulgo Antonio Pedro Tabet, 37 anos, autor do blog de humor mais acessado do Brasil, considerado um dos 100 brasileiros mais influentes do país pela revista Isto É.

O publicitário carioca explica seus métodos de trabalho e de pensamento numa entrevista pra lá de sobrenatural.

A Máquina dança o quadrado. O programa foi exibido na noite de terça (1º/5) na TV Gazeta.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

POR FAVOR

Arte de Miró

Educação combina com sensibilidade. Combina com romantismo. Mostra que estamos ouvindo o que está sendo dito. Não é um item repressor. Não traduz falta de liberdade.

É o contrário: os bons modos são revolucionários. Significa respeitar o outro de igual para igual. Significa não dar ordens. Significa intimidade.

Ouça meu comentário na Rádio Gaúcha (28/4), no programa Gaúcha Hoje:


terça-feira, 1 de maio de 2012

ENTERRADO VIVO

Arte de Rufino Tamayo

A tomografia computadorizada é um ensaio do velório.

Quem já fez o teste concordará comigo. Oferece uma experiência singular de impotência.

Quando deitei na cama branca do aparelho, eu me vi desamparado, me vi inferiorizado, me vi vulnerável, deparei com minha fragilidade em sua pureza mais remota. Uma sensação anterior à infância. Talvez adquirida no útero materno.

Eu era um mosquito sendo apanhado por duas mãos, mas ainda não esmagado. Um mosquito preso em seu último voo. Abafado pelos dedos de Deus.

Então, sou isso? Esse conjunto quebradiço de carne e osso que não tem noção do que há por dentro e que segue desinformado do próprio corpo? Isso? Essa coisa almada?

Busquei espantar a tristeza aparente, mas o lugar não permitia conversas. As palavras não foram autorizadas a entrar comigo.

Passaria pelo túnel tempo suficiente para descobrir que sou finito. O auxiliar pediu que cruzasse os braços no peito enquanto a máquina reproduziria meu cérebro. A impressão é de que repousava em meu caixão e ia sendo levado pelos amigos. Ouvia nitidamente as argolas de prata batendo no casco da madeira.

Não estava nu, quem dera, vivia a pior nudez, a da camisola do hospital, fina e intrusa como uma casca de ovo. Aquela cena rascunhou minha morte. É uma solidão sem família. É aterrorizante realizar o exame de tomografia pela monotonia fúnebre. Pela ausência absoluta de sentido.

Obedecer é o que me resta, sou fantoche do desespero, perfumado à toa, sem mais uso de minha mulher:

– Mais de lado, para esquerda, olhando para cima –, o técnico orientava e eu prontamente atendia suas ordens.

Nem precisa de memória, de imaginação, para se enquadrar nos gestos e nas talas. Assumo uma passividade monstruosa, onde não discuto nada com medo de provocar o pior.

Deitar e esperar, com as mãos firmes e tensas algemadas no tórax. Breves minutos que reprisam as contradições da vida, as incertezas, os engasgos da dor, se fui bom ou ruim, se serei lembrado com vigor ou sofrerei o descaso natural dos parentes.

Mergulhar com a cabeça no interior do tubo, como quem ingressa na sepultura. Como quem abre um lugar na parede do São Miguel e Almas.

Com o início do exame, escutar o barulho do cimento, da pazinha, fechando nossa comunicação com o mundo. O zumbido de mosquito finalmente pego.




Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 1/05/2012
Porto Alegre (RS), Edição N° 1756

O ÓDIO É EXCESSO DE EXPECTATIVA

Arte de Magritte

Pessoas me odeiam ou porquem recusam o meu jeito espalhafatoso ou porque sou teimoso ou porque simplesmente não vão com a minha cara ou porque demorei a responder uma mensagem ou porque não concordaram com uma frase e não ouviram o resto ou porque sou colorado ou porque me conheceram na rua e não me acharam simpático ou porque pinto as unhas ou porque me acham machista ou porque me consideram feminista ou porque me enxergam como romântico ou porque o silêncio cheira a prepotência. A essas pessoas eu gostaria de dizer que vou decepcioná-las de novo. Sou igual a elas, levo uma vida comum, não há nada de diferente e especial.

Ouça meu comentário na Rádio Gaúcha na manhã de terça (1/5) no programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Fernando Zanuzzo: