quarta-feira, 13 de julho de 2011

MUITO IRRITANTE

Arte de Cínthya Verri

Os homens são irritantes. Mas involuntários. Nem tem consciência de quando incomodam e como incomodam, e ainda se sentem vítimas de ciladas femininas.

É precisamente não saber o que fizemos de errado o que irrita as mulheres. E elas pensam que estamos fingindo, o que agrava o nervosismo.

Mas não, não sabemos mesmo. Não é encenação.

É que repetimos as mesmas falhas e não aprendemos e elas não entendem como não assimilamos a lição na primeira ou segunda tentativa; daí concluem que simulamos bobeira para passar bem, que a dúvida é uma fachada sonsa, uma falsidade ingênua, acobertando um poço de maldade viva e faminta.

Acompanhe meu raciocínio: não há sentido em pedir desculpa por aquilo que não registramos. Somos esquecidos, apenas isso. Totalmente amnésicos.

As mulheres deveriam nos agradecer pelos lapsos de memória. Imagina se tivéssemos consciência de nossas irritações para irritar as mulheres ainda mais. Seríamos pais de Maquiavel, avôs de Cardeal Mazarino, bisavôs de Barba Negra.

Olha só o que acontece comigo:

Apresso a minha mulher para sairmos, digo que ela depende de uma hora e apenas faltam 40 minutos para o trabalho. Ela corre alucinada com o estojo de pintura, o secador, os cabides, eu permaneço lendo jornal. Ela atravessa os corredores com um monte de roupas, equilibrando o iogurte numa mão e a agenda noutra, eu permaneço lendo jornal. Vou gritando “Está pronta?” a cada mudança de editoria, como um cronômetro afetivo, para recordá-la que estou atento e demonstrar interesse. “Pronta?” a cada dez minutos, quatro vezes no total.

A voz chicoteia o tempo, o propósito é criar uma alucinação militar, afobada, estressante para ajudá-la a se superar e merecer elogios ao final. Por evitar o atraso, o homem jura que receberá um emocionado agradecimento.

Quando ela se apronta, finalmente linda, maquiada, cabelos secos, cheirosa, após cumprir o impossível de 40 minutos, exatos quarenta minutos!, fecho o jornal e aviso que vou tomar banho.

— Mas um banho rápido, tá? Para não nos atrasar?

Acelero minha esposa quando não estou vestido porque deduzo que sou rápido e ela lenta, sobrecarregada de miudezas e detalhes.

Cínthya bufa de raiva, bate o pé para não me enforcar com o próprio cinto de lantejoulas.

É que o homem sempre tem uma defesa mirabolante quando a vida pede uma resposta simples. Além de nossa esquisita mania de não acreditar no inconsciente.



Crônica publicada no site Vida Breve

20 comentários:

Sexo c/ Amor? disse...

Amei este texto! Os homens têm horror de prestar atenção nos detalhes, nas nuances das coisas. A mania objetiva, irritante, de não sacar o que existe por trás de tudo.
beijo

Unknown disse...

Típico. Todos os homens que eu conheço são assim =]

Erlon disse...

Texto perfeito pra mostrarmos para nossas namoradas/ esposas. Assim elas irão nos entend.er melhor.

Anônimo disse...

Meu Deus, eu jurava que algum era diferente neste mundo!

Cecília França disse...

Ótimo texto!! Acalmou meus nervos irritados pela falta de memória do meu marido... Ah, e o cinto, certamente, é de paetê, não de lantejoulas!!rs

Anônimo disse...

Linda imagem deste post.
Patrícia Gomes
http://agoraquesoumae.blogspot.com

Unknown disse...

Benditas diferenças!

NO MUNDO DA LU(A) disse...

Afff! Seriam vocês todos iguais??????
Ótimo texto...até ajuda a dar um descontinho aos meninos, mas não em dia de tpm.
Beijos.

Ramiro Conceição disse...

Não sabemos mesmo.
Não é encenação…
A voz chicoteia o tempo…


MÚSICA MORTAL
by Ramiro Conceição


Mortal
é a insensatez de
provar… o Existir!
Sua Presença:
são nossos filhos;
esses pais nossos;
esses nossos pais;
nossas vinganças;
esses amigos;
nossa esperança;
esse nosso céu;
nosso oceano;
essas estrelas;
nossos amores;
essas florestas:
esses animais;
essa música: mortal!

Anônimo disse...

a pedophile BLOG!
How good is that?
Just fine with us cause we're makin' a MOOOOOOOOOOOOOVIE!
Gonna be so GROOOOOOOOOOOOVY!
SWAT- SWAT- SWAT!
( MANCHIN- " PFST"!)

Erica Gaião disse...

Perfeito! Incrível a sua capacidade de ir direto ao ponto. Mas eu ainda não acredito que vocês, homens, não fazem isso de propósito... (risos). Há um prazer imensurável em irritar uma mulher, pode confessar! Foi bom para você?

Beijos

Mima disse...

Muito interessante reler atraves de seus textos minhas historias de (des)amores com esses irritantes aspectos masculinos. É pura e simplesmente como você definiu. Benditas diferenças mesmo!

Caca disse...

Parece até aqui em casa. hahahah! Ótima! Abraços.

Unknown disse...

Eu não tenho muito o que comentar, mas, homens são irritantes e não só involuntariamente. Tudo bem que cada caso, é um caso, porém, há muitos mocinhos espalhados por aí que fingem não saber o que fizeram, tentando passar a culpa da burrada, para o sexo fragil ( que também não é fragil ), todo mundo tem lá sua parcela de irritação, voluntária e involuntária... alguns usam isso a seu favor, pode dar certo.

Natália disse...

Muito bom! Me ajudou a compreender um pouco essa atmosfera masculina e a pegar mais leve com os homens com quem convivo!

@elisabeteporto disse...

e essa pretensão de justificar a falta de memória masculina? Não me convenceste!!! rsrsrsrsrsss e essa de apressar e depois ir tomar banho... interessante como vocês parecem combinar, se juntam como se fosse uma seita, um clube, e decidem oq fazer pra nos irritar!!!
mto bom!!! sou sua fã!!

Anônimo disse...

Meu! E eu achando que só o meu marido era capaz de fazer isso!!!

nani bandeira disse...

Não assimilar as coisas depois de repetir tantas vezes o mesmo erro. E depois nos acusam de sermos repetitivas. Homem é tão fácil de decifrar. É só prestar atenção ao vizinho e verá que o seu é igualzinho.
Quanto mais leio o que escreves, mas viro fã. Já li todos os teus livros de cronica.

Laís disse...

Bom o texto. Mas não se pode generalizar. Há muitas mulheres amnésicas por aí, e muitos homens atrasadinhos.

bjs,
Laís.

Fabiola disse...

Vi uma entrevista sua na TV Câmara, "Sempre um papo", e gostei do seu jeito sincero e escancarado de dizer as coisas. Ah... esse texto acima é muito bom! Sem dúvida, a curiosidade me permite aprofundar em sua literatura.
Obrigada por suas palavras.