quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

OFICINA DE BLOG LITERÁRIO



Seis encontros
Quartas e quintas
Dias: 20, 21, 27 e 28/1 e 3 e 4/2
Das 20h30 às 22h30

Valor: R$ 300,00


OBJETIVOS
Trabalhar a literatura em blogs, com postagem de textos, revisão e criação de perfil. Valorizar o cuidado com a linguagem, a necessidade do foco e do envolvimento com a história. Mostrar as diferenças entre os gêneros e discutir as experiências que podem render boas tramas e assuntos. Preocupar-se com a sequência de textos e o amadurecimento do estilo. A partir da conversa em grupo, vencer o medo da exposição, fortalecer a solidão criadora e superar tabus e o senso comum.

POR QUÊ
O blog é um laboratório de escrita criativa. Perdeu seu estigma de catarse e escrita sentimental para adquirir o status de uma janela fundamental para a comunicação com os leitores. Muitos autores passaram a ter chance numa editora a partir do que publicavam na rede, do exercício laborioso e continuado de ficção.

CASE
O blog virou uma vitrine para a descoberta de talentos pelas editoras. É o caso da paulistana Fal Azevedo. Após dois livros independentes, e de mandar originais para as editoras sem resposta ou recusados, terminou descoberta pela Rocco e recebeu convite para publicação em função do estilo carismático desenvolvido no Drops da Fal. Pelo selo, editou o romance "Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite", uma narrativa fragmentada e híbrida, carregando traços característicos da internet.

O PROFESSOR
Fabrício Carpinejar, 37, publicou quatorze livros, venceu prêmios como o Jabuti 2009, por Canalha!, e Olavo Bilac 2003, da Academia Brasileira de Letras, por "Biografia de uma árvore". Representa um dos mais antigos blogueiros em atividade ininterrupta no Brasil, postando crônicas desde 2003. Seu novo lançamento www.twitter.com/carpinejar (Bertrand Brasil) reúne aforismos publicados no twitter.

INSCRIÇÕES
E-mail: atendimento@clinicaverri.com.br
Telefone: (51) 3022.4444
Clínica Verri
Rua Tobias da Silva, 267/506, Moinhos de Vento, Porto Alegre)

EPÍSTOLA AOS BLOGUEIROS

Fabrício Carpinejar

Nunca invejei Santo Agostinho pela sua salvação. Não conseguiria repeti-lo. Guarda-se a impressão de que ele quis se livrar da danação no ombro do Pai. Olhando de perto, ele foi mais corajoso do que conformista. Antecipou o inferno. Não esperou para sofrer na outra dimensão. Pagou à vista o inferno. Converter não é encontrar Deus, é encontrar o inferno.

Blog é prova de resistência. Um big brother ao avesso dos gêneros literários. Em vez de ser conhecido, corresponde a mergulho no anonimato. Distinto da noção do senso comum de que se trata de um lugar para aparecer. O resultado final (a possível badalação de um endereço virtual) não expõe a realidade. Os exibidos foram antes tímidos, os extrovertidos foram antes introvertidos. É a mais dolorida experiência editorial. O mais severo teste vocacional. Uma ferramenta do diabo, capaz de sugar sua vida ou sua aspiração.

Indica a fronteira entre o amador e o escritor, entre o diletante e o renitente, entre o curioso e quem não consegue se afastar da compulsão narrativa. O amador cansará nos primeiros meses. Vai deduzir que não vale a pena o trabalho, que ninguém lê. Uma tortura postar textos durante três meses e não receber nenhum comentário. São os 40 dias do deserto, com as tentações sobrevoando o teclado. "Então Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto para ser tentado pelo demônio e, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, teve fome" (Evangelho de Mateus, capítulo 4, versículo 1).

Você pensou que aquilo seria a glória instantânea. Caprichou na redação, no humor e nas perspectivas singulares de captura do cotidiano. Mas o único que entra no site é você. Chega a esbarrar consigo entre tantos acessos e atualizações. Uma miragem. Cada texto é um quarto vago. Procura contornar o drama. Manda um aviso de postagens para os amigos; manda um aviso de postagens para os desconhecidos, catando endereços aleatórios. Nada mais o separa de um Spam. Recebe avisos ásperos: "não o conheço" ou "favor me excluir da lista". A humilhação não começou. O desespero o obriga a fazer atos impensáveis: entrar de computadores diversos para fazer com que o contador se mexa de alguma forma. Assim como um atacante chuta a bola para as redes alheio à marcação do impedimento. Para se livrar do azar. Ainda que esteja quebrando uma das regras básicas do jogo e leve um cartão amarelo. Não há nem juiz para lhe dar cartão amarelo.

Percebe que lançou um texto com um erro gravíssimo de português. Estava na rua quando lembrou a indecisão ortográfica, longe de qualquer terminal. Corre para uma lan house, consome seu suspiro sem sentir o gosto, arruma e conclui que tampouco alguém reparou.Decide escrever qualquer coisa que continuará sendo qualquer coisa. O isolamento do blog produz alucinações. O contador de visitas parece uma bomba-relógio: anda para trás. Mas tortura é quando finalmente recebe um comentário. Alegria aflita para abrir a janela, quem será? quem será?, descobre que partiu do pai ou da mãe, solidário com sua desgraça.

Sua personalidade passará a se dividir, e não multiplicar como desejava. Sede de laranjas. Laranjas! Sem pudor, cria pseudônimos para deixar comentários (o blog, pelo menos, obriga que seja seu próprio leitor). Diverte-se no sofrimento ao inventar formas de agradecimento pelos textos. Não economiza elogios ao estilo. Estará perto da internação quando se convence de que aqueles comentários não são seus e ainda responde aos e-mails falsos. Hora do soro!

Escrever na rede é uma tentativa de suicídio. Um aviso escandaloso da nossa fragilidade. Pensando bem: publicar é um suicídio frustrado. Quando o ímpeto de sair da vida é usado para entender a própria vida e as dificuldades enfrentadas pelos demais autores.

Uma das virtudes do blog é sua provação. Agüentar os contratempos no osso. Ver que não é um elogio que o fará continuar, muito menos uma crítica que o fará desistir. Que nascer para a letra é amar a insuficiência. O escritor se sucede progressivamente. Melhora. Estar sozinho é ainda estar povoado. Povoado por dentro. Pelos personagens, pelas histórias familiares, pela observação aprofundada dos seus arredores. Só quem foi fantasma um dia poderá alimentar seus fantasmas. Procura-se um reconhecimento externo e encontra-se algo mais preciso: a afirmação pessoal na persistência. Procura-se lá fora o que já se tinha. Como diz Santo Agostinho: "Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim."

O esforço de sair da solidão ajuda curiosamente a fortalecê-la. Compreende que não escreve para completar um diário, ou para repetir sua história, se fosse assim não contaria com assunto para atualização semanal, mesmo que desfrutasse uma trajetória acidentada e heróica como a de Hemingway. Escreve para duvidar e se banhar na luminosidade da confusão biográfica.

Um texto postado é como um texto impresso. Mais fácil para localizar os erros, os tropeços, formar distanciamento. Confere uma maioridade na escrita, reforça uma postura profissional de jardinar e cuidar do verbo, de alterar a prosa e a poesia em nome da transparência e da fluidez. Há a formação gradual de uma assinatura, transmitindo uma visão de ser responsável por aquilo que se diz, de assumir honestamente as dívidas da boca. Organiza-se o rascunho, que é bem mais duro do que redigi-lo.

Não é fácil a rotina da blogosfera. Terá que superar vários fins, várias negativas, várias mortes. Superar a expectativa de fama pelo prazer do texto. Por isso, o prazer necessita ser mais forte do que a dor. O masoquista é o que gosta mais do sofrimento do que da carícia. O blogueiro é o que esquece a ferida pela alegria. A diferença entre guardar o inédito no blog e na gaveta: o blog é uma gaveta aberta.

21 comentários:

Tobias disse...

Perfeito... Sou blogueiro, e, é exatamente assim!!! Muito bem descrito..

Adélia Carvalho disse...

o blog é mesmo uma janela aberta e ficamos loucos para que os outros comecem a fuça-la! Ser blogueiro é tudo isso mesmo, eita espera dolorosa, mas estar persistindo é o melhor retorno, porque persistimos, não apenas na espectativa de ser lidos, mas pela necessidade de escrever...Abraços.

{ Scrappiness } disse...

Nossa, maravilhoso o texto!! E o que comenta Adélia é verdade, a necessidade de escrever é o que nos faz continuar, mesmo que sejamos lidos apenas por nós mesmos... por enquanto!!

Abraços!!

Kéli Graziéli disse...

Pensei que só eu me sentia assim...rs
Texto maravilhoso, como sempre!
Abraço!

Jéssica Lopez. disse...

Você retratou todo o sentimento que temos quando fazemos um blog, mas não tem tanta visibilidade quanto imaginamos que teria...É exatamente assim que me senti quando começei com meu blog, agora, mesmo com um público restrito, eu descobri que escrevo o blog para mim mesma, para expurgar tudo o que existe de dentro de mim, da forma mais intensa possível.
Temos a necessidade de escrever, mesmo que só nós vejamos...É como dizia João Cabral de Melo Neto; "Com mão trabalhada, sem perfumar sua flor, sem poetizar seu poema. "

Grande Beijo, Fabrício!

Renatinha Breier Porto disse...

Putz!! Comecei um blog há pouco, depois de muito relutar...tinha vontade mas faltava-me coragem para passar por tudo isso que postou aí... mas vamos lá. Mesmo ainda não sendo exatamente como quero, acho que finalmente, estou pronta para o anonimato e para a prática da escrita, pura e simplesmente!!! Te adoro muito, cara...
Continuo no teu pé e dos teus, mesmo aqui da nem tão longínqua Gravataí... Bjs

babi disse...

recortei e guardei esse texto quando saiu no estadão. guardei... só não lembro onde.

Paulo-Roberto Andel disse...

sensacional, pra variar!

Aline Garcia disse...

exatamente isso! acabei de criar um blog e é isso mesmo! mas mesmo assim não desanimo! rsrs

Carpinejar... adoro suas frases, tb te sigo no twitter!

Camila de Souza disse...

Queria morar em POA nessas horas.

http://ilimitada-mente.blogspot.com/

Marga disse...

Estou boquiaberta.
E escolho deixar a gaveta aberta também. :)

Beijo, querido!

Nayane disse...

Desde quando comecei com o blog encontrei caminhos que outrora não conhecia... Quem me dera ter a oportunidade de fazer um curso desses... Parabéns pela iniciativa.

P.S: amei seu blog, suas postagens são engraçadissimas e inteligentes. Abraços!

Jefferson Vieira Barboza disse...

Noite de Autógrafos do lançamento do Livro poesias e crônicas, FRAGMENTOS de Lilian Mahila Lima Vigna

Dia 31 de Março de 2010 às 19 horas na Livraria Bamboletras no Shopping Nova Olaria em Porto Alegre!

Contato com a Escritora:

Fones: (51) 9813-0140 e 3228-9162

Email: lilian.vigna@yahoo.com.br

LILIAN Vigna, Escritora...

É artista Plástica, arquiteta formada na Ulbra. Em 2001 foi agente Cultural no MARGS. Na carreira literária recebeu o prêmio,
"Antologia dos Laureados, Cruz do Mérito Literário, em 2004. Ganhou o concurso Histórias do Trabalho da Sec. Municipal da
Cultura, em 2005. Participa da Antologia "Autores Gaúchos, edições Caravelas, desde 2006.Recebeu a "ordem do Dragão Dourado"

da Real Academia de Letras em 2008. Fez a Oficina Literária da escritora Valesca Assis no ano de 2007.

CRUZ DO MÉRITO LITERÁRIO BRASILEIRO, Ordem da Confraria dos Poetas do Brasil:

Mário Pacheco Scherer - Editora

Local: Livraria Bamboletras

Endereço: Shopping Nova Olaria

Rua General Lima e Silva, 776 / Loja 03

Shopping Nova Olaria

Bairro: Centro

Cidade: Porto Alegre - RS

Telefone(s) da Livraria: (51) 3227-9930 / (51) 3221-8764

E-mail: livraria@bamboletras.com.br

OBS: Imagens da Escritora Lilian Vigna e da capa do livro pode ser encontrados no blog do Jefferson Vieira Barboza:

http://popquadrinhos.zip.net/

Anônimo disse...

parabens por mais esta conquista um abraço

Jeferson Cardoso disse...

Meias Verdades

Do deserto eu já passei. Enviei emails aos conhecidos e aos desconhecidos, fui hostilizado por isso, sim, mas jamais trapaceei. Se algum dia eu acessei meu blog do computador de amigos, foi apenas para ver se o contador de visualizações era de fato confiável. No início eram mesmo somente os amigos mais próximos que comentavam, talvez por sentirem-se coagidos por meus convites mais insistentes. Nunca criei laranjas para ter ao que responder; isso eu nunca fiz; ficavam mesmo zeradas as postagens.
O blog é mais que uma gaveta aberta, a meu ver; é sim uma janela para o mundo.

Não vou te elogiar, Fabrício. Você não precisa disso. Boa sorte em teu curso.

Abraço do Jefhcardoso!

Anônimo disse...

oi meu nome é marcos eu fui na sua palestra
ontem e adorei vc porque vc é engraçado com as pessoas.vc é tao esplendor com suas palavras
e jeito de falar e e gosto de pessoas assim um abraço e bjs
[marcos barrim ferreira 15 anos]

Óculos Solar disse...

frequentei suas aulas na unisinos.Foi suficiente para ter certeza de que a criatividade não foi sufocada pela selva de pedra das mediocridades.Vc criou o "personagem" carpinejar que é simpático, faz rir, emociona e deixa o perfume lúdico que alguns poucos seres humanos tem.Já li a poesia de seu pai,mas considero vc o premio nobel de literatura de seus pais!um abraço.

Unknown disse...

fabricio eu tenho um trabalho na escola e queria saber o que você pensa o que você acha.

Asociedade faz o homem ou o homem faz a sociedade? porque

Marcélia Macidália Leal disse...

Perfeito Carpinejar! É assim mesmo que nós blogueiros nos sentimos. A gente é capaz de vender a alma ao diabo por um comentário ou um novo seguidor.A vida de blogueiro é um doce martírio...Hora encoraja...Hora esmurece, mas como você disse, os amadores logo desiste, mas os "AMADORES" do negócio vão até o fim.
Peço autorização para publicar este texto em breve no Boatos e Afins. Um beijo!

beneditocglima disse...

não tinha visto um espaço tão rico ,confesso que fiquei emocioando.

Leninha Brandão disse...

Carpinejar,você colocou em palavras aquilo que sentimos e não falamos,fez uma "anamnese"perfeita do nosso sofrer,pobres blogueiros invisíveis...
Gostaria de sua autorização para publicar este texto no Tudo a Ver.
http://tudoaver-leninha.blogspot.com
Bjssss,Leninha